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10 de Maio de 2024

Juiz que deu voz de prisão ao não entrar em voo já usou escravos duas vezes

Magistrado de Imperatriz, no Estado do Maranhão, deu voz de prisão a funcionários da TAM por chegar atrasado em voo e ser impedido de embarcar. Em 2007 e 2011 fiscais do Ministério do Trabalho resgataram trabalhadores em condições análogas a de escravo nas propriedades do juiz.

há 9 anos

Atendentes da TAM receberam voz de prisão do juiz Marcelo Baldochi e foram conduzidos à Polícia Civil, em Imperatriz (MA), na noite deste sábado (6). O motivo: após chegar atrasado, o juiz não foi autorizado a embarcar em um voo que partia para Ribeirão Preto (SP).

De acordo com depoimento de funcionários do aeroporto a este blog e segundo um vídeo que está circulando na rede, inconformado com o que seria um desrespeito ao seu “direito de consumidor'', o juiz mandou prender os trabalhadores. A TAM disse, em nota, que segue os procedimentos de embarque previsto na legislação. O blog não conseguiu contato com o juiz ou com o delegado até o momento de publicação deste post. Os três funcionários foram liberados.

Mesmo tendo sido formalmente abolida, a escravidão está tão enraizada em nossas fundações que ainda rege as relações sociais por aqui. No mundo do trabalho, sabemos quem manda e quem obedece. E as consequências de não seguir à risca os papeis atribuídos a cada um.

Mas, um momento: eu disse “formalmente abolida''. Pois há quem continue sendo flagrado utilizando-se de formas contemporâneas de trabalho escravo. Como o próprio juiz Marcelo Baldochi.

Em 2007, um grupo móvel de fiscalização, coordenado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, resgatou 25 escravos da fazenda Pôr-do-Sol, no município de Açailândia (MA), de propriedade do juiz. Entre eles, havia um adolescente de 15 anos. Os trabalhadores faziam a derrubada da mata e o roço do pasto para o gado, com exceção de duas mulheres, que cozinhavam para o grupo.

De acordo com o relatório, o grupo de fiscalização chegou ao local após denúncia de um fugitivo. O isolamento geográfico, a retenção de salários e a existência de dívida ilegal caracterizaram a situação encontrada como trabalho escravo. Na cantina, os trabalhadores contraíam dívidas com artigos alimentícios e equipamentos de proteção individual, como botas e luvas. As condições de alojamento eram degradantes e insalubres.

Até agora, Marcelo não foi punido criminalmente e o Tribunal Regional do Trabalho do Maranhão chegou a cancelar uma indenização concedida a um dos trabalhadores escravizados em uma das fazendas. O juiz também foi inserido na “lista suja do trabalho escravo'', cadastro do governo federal que relaciona os que foram flagrados usando esse tipo de mão de obra e que é usado como referência de bancos e empresas para cortar negócios, em dezembro de 2008. Mas saiu devido a uma liminar judicial em junho de 2009 – 18 meses antes do prazo regulamentar.

Através de sua atuação como magistrado, ele também interferiu em um julgamento de outro produtor, Miguel de Souza Rezende – que já foi flagrado mais de uma vez usando trabalho análogo ao de escravo em suas propriedades de gado no Maranhão. A ação do juiz, de autorizar a mudança de esfera para o julgamento desse réu, foi vista pela sociedade civil e pelo Ministério Público como danosa ao processo. Pois, com a consequente extensão do prazo, poderia contribuir com a prescrição do crime.

Enfim, em 2011, uma nova operação guiada por denúncias de trabalhadores resultou no resgate de quatro pessoas em condições análogas às de escravos na fazenda Vale do Ipanema, em Bom Jardim (MA), onde Marcelo Baldochi criava gado.

Fonte: http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2014/12/08/juiz-que-deu-voz-de-prisão-ao-nao-entrar-em-v...

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Vi um comentário em outro site que achei interessante. Isso tudo é pra não ficarmos atrás da Argentina, pois se eles tem Papa nós temos deuses. continuar lendo

Senhores, esse assunto é preocupante. Veja bem que casos semelhantes (imposição pelo cargo) eram praticados na ditadura militar no Brasil. Por outro lado, é difícil mensurar até que ponto algumas atitudes de magistrados podem ser atreladas ao autoritarismo ou se está havendo um "estressamento" de uma parcela da classe. Isso porque, de uma forma ampla e generalista, com tanta corrupção em nosso país, os magistrados são os profissionais com as maiores cargas de trabalho. Sem contar que as apurações das "grandes corrupções" recém estão iniciando. Me esforço para acreditar nesta hipótese para justificar "a voz de prisão" inadequada. continuar lendo

Para complicar ainda mais a situação do juiz, os corregedores informaram também que receberam outras denúncias contra o Marcelo Baldochi, e que serão abertas novas investigações.

"Eu não posso dizer [quais as denúncias] porque isso implicaria tomar decisões precipitadas ou pelo menos comprometer alguma coisa que não seja verdade. Isso merece um procedimento a parte, que não diz respeito ao caso presente, da TAM", afirmou o desembargador.

O juiz já é conhecido no Estado por se envolver em polêmicas. Em 2007, foi flagrado por fiscalização e denunciado por manter trabalhadores em condições análogas à escravidão em uma fazenda de sua propriedade. Dois anos depois, foi condenado a pagar direitos trabalhistas.

Em dezembro de 2012, também em Imperatriz, ele se negou a dar dinheiro a um flanelinha, discutiu com ele e acabou sendo esfaqueado. A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) também informou que abriria uma representação contra o juiz por tratamento arrogante com advogados.

Também em 2012, o juiz negou indenização a cliente de uma companhia aérea que passou por situação semelhante no mesmo aeroporto, perdendo voo por conta de horário de finalização do check in.

O juiz Marcelo Baldochi voltou às atividades normais nesta segunda-feira (15), após ficar uma semana afastado por licença-luto por causa da morte de um familiar no Estado de São Paulo. Procurado mais uma vez pela reportagem, Baldochi não atendeu às ligações, nem respondeu às mensagens enviadas ao seu celular. continuar lendo

Por fim, o coronelismo prevalece no Brasil e o próprio Estado ampara esse tipo de ser vivo. Ao trabalhador comum um artigo de lei cheio de motivos para ser dispensado de seu serviço e, não bastante, caso seu empregador entenda por bem dispensá-lo, basta uma "indenização". Já os servidores do povo...estes não! não podem ser dispensados, pelo contrário, a cada dia que passa ganham mais e mais, salários e auxílios e são promovidos sob o manto do devido processo legal, legítima defesa, e demais infinitos princípios que são muito bem usados pelos criminosos (perdão! não houve trânsito em julgado).
Disse Justiniano: "Justiça é o desejo firme e contínuo de entregar a cada um o que lhe é devido."
Tem razão seu ensinamento, pois aqui não há justiça porque falta o desejo de tê-la. continuar lendo

Caro Colega, compartilho de suas brilhantes e preciosas palavras. Sua irresignação certamente é compartilhada por nós, honestos operadores do direito e claro, por toda sociedade que batalha para cumprir suas obrigações e ao final, deparar-se com atitudes insanas daqueles que deveriam ser exemplos. continuar lendo

Mas um Juiz também não tem que ter moral ilibada? Trabalho escravo não é crime? Como ele ainda é Magistrado, ou, será que, é só no momento de ingressar na Magistratura, depois não precisa?!!! continuar lendo

Continuo insistindo: onde está o CNJ , os conselhos de magistratura e o próprio MP??? São tão responsáveis quanto o Juiz, OMISSÃO.... continuar lendo